10
fev
Provavelmente todos que agora me leem, já viram bebês em início de balbucio. Aos 4 meses, em geral os bebês começam a perceber que estão emitindo sons e experimentam a emissão e o interromper de o próprio “falar”. É a primeira experiência de propriedade pessoal. O bebê percebe que é ele quem está produzindo ou não, os sons que escuta. Momento maravilhoso!
Vamos crescendo e com nossos pais ou cuidadores, aprendemos a nomear as coisas: somos ensinados a associar aquilo que mostramos interesse, a nomear com palavras que dão significado ao mundo pessoal. Assim, vamos formando o nosso vocabulário.
Por volta de 4 anos, começamos a perceber que existe um outro aprendizado: nem tudo é concreto e vamos aprender a dar significado a sentimentos e sensações. Assim começa o caminhar através da subjetividade.
Percebemos que existe a finitude em um peixinho que morre no aquário de casa, ou a vovó do amiguinho que vira estrelinha…e não a vemos nunca mais. E como explicar que o sonho é um filminho que passa na cabeça quando a criança dorme? É tudo tão real e muitas vezes assustador…!
Aprender a falar é altamente sofisticado, pois mobiliza vários recursos diferentes: emoção, emissão, razão, interesses, percepção e fantasia. Tudo ao mesmo tempo, além de demandar uma escolha de palavras apropriadas para o que se deseja expressar.
Quando adultos, espera-se que o falar seja apropriado, preciso e esclarecedor. E que aquele que emite, faça-o de maneira satisfatória.
O problema é saber se o que foi falado, é devidamente entendido ou aceito!
Problemão, pois nem todos aprendem a falar ou melhor sentem-se com permissão em falar o que pensam. E isso não é uma questão de vocabulário, mas sim ter permissão interna.
Quando o emitente cresceu em um lar crítico ou onde não foi respeitada sua individualidade, quando adulto, faz-se necessário desenvolver novamente a fala.
Como assim?
Aprender novamente a falar, sem buscar aprovação externa. Achar o modo de expressão satisfatório e libertador, pois até então podia estar aprisionado por medos e inseguranças. Por falta de aceitação e confirmação de propriedade.
Poder falar o que pensa, o que sente, pois este “falar” não é uma questão de vocabulário, mas uma busca de libertar-se de críticas nefastas, que muitas vezes o fizeram ficar calado, quando tinham muito a dizer.
Vejo frequentemente, pessoas que não tiveram garantias de amor, e assim se calaram, a ponto de não se dar conta do quanto estavam sendo abusados e maltratados.
O problema é que nós humanos, acostumamo-nos e somos maleáveis demais, sem nos darmos conta do dano que isso pode acarretar.
Aprender a falar depois de crescido, é libertador e um ganho imprescindível. Principalmente para as mulheres da minha geração, pois fomos “educadas” (treinadas?) a não dizer o que sentíamos, pois poderia ser falta de polidez!!!!
É demais não acham?
Vamos pôr a boca no mundo, mas respeitando principalmente nossos limites e possibilidades, reconhecendo o que é possível a cada momento!
Que tal?
Miriam Goldstajn
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Educadores
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