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jan
O processo de interiorização ortográfica é gradativo, havendo algumas consoantes que requerem maior atenção devido à variabilidade de sons relativos à posição dentro da palavra.
Crianças que apresentam algum distúrbio, como a Dislexia, apresentam maior dificuldade nesse processo, necessitando por vezes de um atendimento especializado, como o da Psicopedagogia. Esse distúrbio é definido pela Associação Brasileira de Dislexia (ABD) como “um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração”.
Segundo o GDF (Governo do Distrito Federal) através do Núcleo de Monitoramento Pedagógico existem dez hipóteses de trocas ortográficas, dentre elas a “Correspondência Múltipla”. Um dos casos pode ser visto como a das trocas de “Uma Letra ser Representada por Vários Sons”.
A fim de exemplificar o trabalho psicopedagógico que desenvolvo com as crianças com dificuldades ortográficas, ressalto os Diversos Sons da Consoante “X”.
Começo propondo a leitura desse poema:
Eu acho tão engraçado
O x mudar de valor
Parece até camaleão
Que sempre troca de cor.
Na maioria das vezes
O x soa como chê
Xerxes, xícara, xarope
Xadrez e caxinguelê.
Em exame, exílio, exato
Ele tem o som de zê
Essa letra é mais teimosa
Do que Saci-Pererê.
Em muitos casos o x
Tem o valor de cs
Sexo, fixo, anexo
Desta maneira se lê.
É a letrinha mais indócil
Entre todas do a-be-cê
Em defluxo, trouxe, auxílio
Sua pronúncia é sê.
Falta ainda a sibilante
Que eu digo meio assobiado
Reparem nestes exemplos
Expulso, extrato, explicado
Mas, apesar de tudo isto
O x eu vou defender
Quem conhece os seus valores
Demonstra que sabe ler!
FREITAS, Walter Nieble de. Manual pedagógico para a escola moderna. São Paulo, Pedagógica, s.d.
Após a leitura do poema e a explicação do vocabulário ainda não conhecido, converso com a criança se ela descobriu o tema da poesia, ou seja, quais os sons que a consoante X pode adquirir. A resposta a ser esperada é a de que o X pode ter sons diversos e que são em número de cinco.
Peço que faça um círculo com cores diferentes a cada um dos sons apresentados nas diversas estrofes. São eles: “Chê”; “Zê”; “Cs”; “Sê”; e “Sibilante”.
Faço com que perceba que o poema não tem um título; solicito para que crie um condizente ao tema.
O próximo passo é o de selecionar uma palavra para cada sonoridade da consoante e escrever uma palavra. Por exemplo: “Zê”: exame. Peço que a criança oralmente faça uma oração com a mesma; a seguir, peço sugestões de outras palavras similares.Caso seja possível, complete com a escrita de uma oração com a que mais agradou.
O objetivo agora será o trabalho de descoberta da regra ortográfica no uso do X. Deve-se selecionar um ou dois sons, como o som do “Zê” e do Sibilante.
Para isso, sugiro que escolha uma ou mais palavras de cada sonorização, como “exame” e “expulso”. A seguir, que passe um traço abaixo da consoante “X” e circule as letras que a antecedem e a procedem, ressaltando o que há de igual ou diverso nas duas opções.
Faço-a perceber que antes do “X” nas duas opções, temos a vogal “E”; mas após o “X”, num caso temos uma vogal e noutra, uma consoante.
Após pesquisar outras palavras com essa mesma sonoridade, peço com que explique oralmente a regra ortográfica implícita, ou seja, quando a palavra começa com “E”, estando o “X” está entre vogais, ele adquire o som de “Zê”. Mas se após o “X” houver uma consoante, o som é sibilante.
Quando a regra estiver clara, sugiro que a escreva com as próprias palavras e a utilize com diversos exemplos.
Em outras ocasiões, as demais sonoridades também deverão ser exploradas com o uso de textos e demais materiais.
Sugestão:
O X da questão
- Como é? Você não se manifesta?
A pergunta era do S. Foi reforçada pelo K. Aí, humilde, o X falou: - Vocês não entenderam bem o meu caso. Eu vou explicar… Eu estou hesitando não é por medo ou covardia… É que eu não tenho moral para protestar…
Então, o X, humildemente, contou que ele também era culpado de roubar o som de seus companheiros. Os dois não acreditaram, ele provou. Escreveu no chão a palavra exame. - Quer ler, por obséquio? – disse ele ao S.
- Exame.
- É de Z ou de X o som na segunda sílaba?
- De Z, disse o S.
Rapidamente o X escreveu novas palavras. Exemplo… Exercício… Executivo… Exaustivo… Exagero… Exigência… - A letra sou eu… O som é meu ou do Z?
Os dois baixaram os olhos.
O X se afastou, lentamente, subiu pela parede e, lá do alto, escreveu uma palavra só: máximo. - De pra ler aí de baixo? – perguntou ele ao S.
- Dá.
- Então leia. Leia devagar, sílaba por sílaba.
O S começou: - Má…
Nisso percebeu que ele também estava sendo roubado. O X da segunda sílaba não soava nem como o de xá e de xícara, nem como o de sexo ou anexo. - Ah! letrinha miserável! Eu vou te ensinar! – esbravejou ele, principalmente porque o X sorria, lá de cima.
- Hoje você não me pega, companheiro. Deixa pra outra ocasião… Talvez na próxima…
E caprichou bem na última palavra.
(Excertos de As Letras Falantes, de Orígenes Lessa, Edições de Ouro)
Com esses trabalhos o sistema da escrita será mais facilmente interiorizado tanto com crianças que apresentem dificuldades de aprendizagem como aqueles que estão no processo de letramento e fixação ortográfica.
Em minha clínica, desenvolvo outras formas criativas e lúdicas de descobrimento da ortografia e de sua aplicabilidade.
https://pt.slideshare.net/equipeanosiniciais/ortografi-quadro-segundo-zorzicom-alteraes-2http://recup2010.blogspot.com/2010/05/o-poema-abaixo-e-muito-interessante.htmlhttp://almanaquenilomoraes.blogspot.com/2014/05/o-x-da-questao.html
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