27
ago
Quando pequena, a hora de dormir era uma batalha! Meus pais insistindo que já era hora e eu, não querendo dormir!
Fui uma criança assustada, pois, muitas coisas, não entendia: assustava-me com homens de barba, pessoas envelhecidas. Não fazia sentido o que se passava, que as pessoas mais velhas se modificavam. Achava que as estradas eram enroladas, como tapete, e estendidas novamente pela manhã. Dei um jeito de entender
Além disso, as noites eram compridas e queria brincar! Brincar era mais agradável que dormir, pois pesadelos aconteciam e me assustava. Não compreendia e confesso que ainda não compreendo bem como surgem os sonhos noturnos. Sei que os sonhos (ou pesadelos) são a expressão de conteúdos internos, acrescido das experiências diurnas vividas.
Muitas vezes vivemos pesadelos acordados, mas o fato de estarmos despertos, parece diferenciar o que ocorre durante o sono. Temos a impressão de controle.
Mas será mesmo?
Freud** escreveu que “O sonho é a via régia do inconsciente”. Ou seja, que através do sonho, pode-se ter acesso aquilo que não temos consciência. Jung**, interpretava sonhos de forma simbólica.
Muitas vezes, sonhamos acordados e nem percebemos. Divagamos sobre alguma coisa ou assunto de forma imaginativa. A capacidade de imaginar é infinita. O importante é poder identificar o que é imaginação e o que é real.
Surge então outra questão: como saber se aquilo que imagino é realidade ou não? Cada indivíduo tem suas experiências e atribui a cada acontecimento um significado conhecido. Cada vez que vivemos uma nova situação, mobilizamos nossos conhecimentos e experiências, tentando assim compreender o que acontece. Se ainda não houve registro do fato inédito, preservar a capacidade de poder se surpreender é uma alternativa. Outra é não aceitar o novo e seguir “recortando” experiências antigas, e dela fazer uma colcha de retalhos que faça sentido. Outra é negar o fato novo e não o aceitar. Poderíamos continuar esta especulação por mais tempo, mas a mim parece que podemos hoje parar por aqui para pensar e absorver este mundo imenso.
Viver e sonhar é uma grande aventura complicada e complexa!
*sonho
1: Substantivo masculino; Ato ou efeito de sonhar. 2: Conjunto de imagens, de pensamentos ou de fantasias que se apresentam à mente durante o sono.
** SIGMUND FREUD revolucionou os estudos do inconsciente ao escrever seu
primeiro livro, A
interpretação dos sonhos, em 1900. O fundador da psicanálise
apresentava o método de relato e interpretação dos sonhos como meio mais
eficiente de acesso ao inconsciente. Além disso, ele explica por que ocorrem os
sonhos, como eles funcionam e a relação deles com este nosso lado oculto. Não é
o conteúdo do sonho lembrado (o que ele chama de “conteúdo manifesto”) em si
que daria as respostas para a investigação de Freud e sim o relato, a emersão
dos pensamentos oníricos latentes, ou seja, aquilo que corresponde aos traumas
e desejos mais profundos do ser-humano. Freud era CAUSALISTA, isso é, enxergava
que todos os conteúdos dos sonhos eram causados por experiências anteriores,
desejos e traumas.
**CARL JUNG, psiquiatra, psicoterapeuta e fundador da psicologia analítica, foi por muitos anos amigo e confidente de Freud, porém, com o tempo, suas diferentes visões sobre a psicologia acabaram por afastá-los. Jung se interessava muito pelos mitos e religiões, e acreditava que nossa cultura, aquilo que durante nossa vida lemos, ouvimos e vemos, afeta nosso inconsciente de tal forma que ele cria o termo “inconsciente coletivo”, que diz respeito a toda influência da nossa cultura e ancestralidade na raiz de nossas mentes. Ao contrário de Freud, Jung possui uma abordagem FINALISTA dos sonhos, isso é, ele enxerga os pensamentos oníricos como algo que tem uma finalidade, e trabalha com suas finalidades, e não com as suas causas.
Miriam Goldstajn
Psicóloga
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